quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Feliz ano novo!

Plagiando uma certa Gabriela Brasil, em 2010 eu quero quase tudo menos:

menos violência
menos corrupção
menos aparência
menos falação
menos agonia, hipocrisia, ingratidão.

E quero o mais óbvio:

saúde,
paciência pra agüentar as mentiras e baixarias que vêm junto com o ano de campanha eleitoral,
praia no carnaval...

...e, que tal outra taça pro Brasil?

Feliz 2010!

MdPB

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Natal, pane e reencontro

Hoje eu vou falar diretamente com você, meu amado blog.
Pela primeira vez, desde o inicio da nossa relação, eu tinha o que dizer, e você não ajudou. Dois dias no espaço, completamente out of contact , confesso que senti saudades. Por sorte que tive o cuidado de checar outros blogs e estavam todos no espaço.

Que bom estarmos juntos novamente!
Adorei descobrir o seu valor!
Na vida as coisas são assim: “só se ama o que não se possui completamente” – Uuuui!, como diria Proust.
Esta frase soa como um clichê.
Não é.
É Verdade absoluta!
Quando você sumiu meu amor aumentou muito!...

Daqui pra frente vou cuidar mais de você: vou copiar tudo direitinho antes de postar, vou checar sua presença na rede todos os dias, vou colocar marcadores, vou alimentá-lo com mais freqüência; enfim, vou tomar melhor conta de você.

Mas, peraí!
Sem interferências!
Não vou aceitar críticas assim.
Senti um resmungo seu, reclamando que tava na hora de parar com esse papo enganador e cheio de promessas... Ok!

Vamos então desejar a todos um feliz “Dia de Natal” e prometer que continuaremos juntos até que nova pane nos separe.

MdPB

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Nave redonda

...e o vôo da vida segue a esmo
Num curso infinito(?) céu a céu
Ciências, consciências, paciências
Turbulências abundantes
Calmarias cambaleantes...

E segue o vôo... vida ao léu
Mais tempestades que céu azul
E a nave segue alheia
Sem leste, oeste, norte ou sul.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Lei da sobrevivência: trapaça?

Espécie humana
Parte ainda perdida dentro do grande organismo universal
Ignorância sobre a relação de pertinência entre ambos
Consciência da vida, da morte, da mais valia
Brutalidade
Desenvolvimento sem serventia.

sábado, 28 de novembro de 2009

Mood

...é, tem dias assim: a vida pede uma paz que a gente supõe já ter, o dicionário não ajuda na explicação do sentido de um certo sentimento que aporta na alma. Começo a agir pra mais entender, do que pra espantar o sentimento. Não tem jeito. Ele retorna e se instala. Não é exatamente infelicidade. Busco as palavras: nostalgia, melancolia....é pouco. Talvez uma saudade de algo desconhecido, certamente bom; algo não concreto, não factual. Penso...penso...entro em ação novamente: leitura de jornal, arrumação de gavetas, caminhada na praça... e ele ali...mudo e confortavelmente instalado. Penso de novo...será que é vontade de voltar ao passado: ser jovem, bonita, amada, cobiçada, sem medos? ou seria uma vontade de antecipar o que vai vir de bom e que está guardado numa caixa trancada a sete chaves feita de um material abstrato chamado futuro? penso novamente... é....vou procurar meu remédio contumaz e quase infalível: uma boa musiquinha. E aí, bingo!


“Casa no Campo”
Zé Rodrix e Tovito


Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa compor muitos rocks rurais
E tenha somente a certeza
Dos amigos do peito e nada mais
Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa ficar do tamanho da paz
E tenha somente a certeza
Dos limites do corpo e nada mais
Eu quero carneiros e cabras pastando solenes
No meu jardim
Eu quero o silêncio das línguas cansadas
Eu quero a esperança de óculos
Meu filho de cuca legal
Eu quero plantar e colher com a mão
A pimenta e o sal
Eu quero uma casa no campo
Do tamanho ideal, pau-a-pique e sapé
Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos e livros
E nada mais

Simples assim: era isto o que eu precisava viver, uma viagem de três minutos.
Por enquanto acho que sanou. Caso não, volto a pensar em soluções mais caras e mais complexas.

MdPB

sábado, 21 de novembro de 2009

A “estúpida retórica” de Caetano Veloso

É surpreendente a atualidade da letra de Caetano Veloso em “Podres Poderes”. A música é de 1984. De lá pra cá a terra deu mais de 9000 voltas e tudo permanece muito parecido na América Latina. A diferença é que tudo soa como o “avesso do avesso”. Dê uma olhada na letra:

Podres Poderes
Caetano Veloso


Enquanto os homens exercem
Seus podres poderes
Motos e fuscas avançam
Os sinais vermelhos
E perdem os verdes
Somos uns boçais...

Queria querer gritar
Setecentas mil vezes
Como são lindos
Como são lindos os burgueses
E os japoneses
Mas tudo é muito mais...

Será que nunca faremos
Senão confirmar
A incompetência
Da América católica
Que sempre precisará
De ridículos tiranos

Será, será, que será?
Que será, que será?
Será que esta
Minha estúpida retórica
Terá que soar
Terá que se ouvir
Por mais zil anos...

Enquanto os homens exercem
Seus podres poderes
Índios e padres e bichas
Negros e mulheres
E adolescentes
Fazem o carnaval...

Queria querer cantar
Afinado com eles
Silenciar em respeito
Ao seu transe num êxtase
Ser indecente
Mas tudo é muito mau...

Ou então cada paisano
E cada capataz
Com sua burrice fará
Jorrar sangue demais
Nos pantanais, nas cidades

Caatingas e nos gerais

Será que apenas
Os hermetismos pascoais
E os tons, os mil tons
Seus sons e seus dons geniais
Nos salvam, nos salvarão
Dessas trevas e nada mais...
Enquanto os homens exercem
Seus podres poderes
Morrer e matar de fome
De raiva e de sede
São tantas vezes
Gestos naturais...

Eu quero aproximar
O meu cantar vagabundo
Daqueles que velam
Pela alegria do mundo
Indo e mais fundo
Tins e bens e tais...

Será que nunca faremos
Senão confirmar
A incompetência
Da América católica
Que sempre precisará
De ridículos tiranos

Será, será, que será?
Que será, que será?
Será que essa
Minha estúpida retórica
Terá que soar
Terá que se ouvir
Por mais zil anos...

Ou então cada paisano
E cada capataz
Com sua burrice fará
Jorrar sangue demais
Nos pantanais, nas cidades
Caatingas e nos gerais...

Será que apenas
Os hermetismos pascoais
E os tons, os mil tons
Seus sons e seus dons geniais
Nos salvam, nos salvarão
Dessas trevas e nada mais...

Enquanto os homens
Exercem seus podres poderes
Morrer e matar de fome
De raiva e de sede
São tantas vezes
Gestos naturais

Eu quero aproximar
O meu cantar vagabundo
Daqueles que velam
Pela alegria do mundo...
Indo mais fundo
Tins e bens e tais!
Indo mais fundo
Tins e bens e tais!
Indo mais fundo
Tins e bens e tais!

Aqui vai o endereço para você assistir ao video:
http://letras.terra.com.br/caetano-veloso/44764/

MdPB

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Como se assim fosse

Hoje é dia de festa
Alegria no coração
Flores, janela aberta
Brisa cantando verão.

Hoje é dia de festa
Roupa nova
Perfume doce, tapa na solidão
Dia de dizer sim
Celebração.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Vintage ecological defense

" A ninguém foi dada a posse da vida, apenas o usufruto."Lucrécio (século I a.C.) poeta e filósofo latino.




"Que saberá a mata? Que pedirá a mata?/ Pedirá água?"
Manuel Bandeira (1886-1968), poeta pernambucano.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O Brega pode ser bom!

Gostou não?
Vamos combinar:
a) sem cara feia;
b) com os ombros molinhos;
c) com abertura pra reinterpretações:
O BREGA PODE SER BOM!!!
Chocado com as “capital letters”?
Pois vamos aos argumentos:
Nada pode ser descartado, de cara, porque tudo tem seu lugarzinho e sua horazinha pra viver e acontecer. Exemplo: Nelson Rodrigues já foi execrado pela intelligentsia brasileira nos anos 1960/70, por ser considerado brega, sobretudo pela turma da esquerda. Aí estávamos eu, quase todos os meus irmãos e quase todos os nossos amigos. Todos arrebanhados pela turma do Pasquim (semanário carioca que fez a cabeça de parte da juventude brasileira do final dos anos 1960 e toda década de 1970) . Hoje ele (Nelson Rodrigues) está entre os melhores dramaturgos e pensadores brasileiros, principalmente por falar de forma crítica e muito objetiva sobre a trivialidade da rotina brasileira e da sua “cultura hipócrita”. O mesmo aconteceu com Roberto Campos, o “Bob Fields,” ex-deputado federal, também execrado pelo mesmo Pasquim e pela mesma turma de esquerda. Ele nunca foi de esquerda. Este foi seu grande pecado! Pra mim, os melhores pensadores latino-americanos de hoje são aqueles que um dia foram de esquerda e conseguiram dar o salto para a social-democracia (Mário Vargas Llosa, Arnaldo Jabor-principalmente fora da internet rs, rs, além de outros). Ou seja, que deixaram de pensar em centralizações, estatizações, dentre outros males, e passaram a aceitar o mercado como instância razoável para decidir sobre as questões básicas da economia: o que, quando, como e a que custo produzir. Claro que não estou falando aqui do mercado solto “de canga e corda” como costumam dizer os sertanejos. Mas, do mercado com as “regulações” desejáveis, que corrigem os exageros e evitam o surgimento de bolhas. Roberto Campos sempre foi um liberal empedernido e assim morreu. Não sem antes ter tido o seu lugarzinho no cenário intelectual e político brasileiro. Tá certo. Aceito o argumento de que ele serviu à ditadura. Ele serviu mesmo. Porém, resta um pequeno espaço de defesa: a ditadura estava “lutando”(?) contra algo que ele também era contra. Concordo que defender Roberto Campos não é fácil. Mas, pelo menos vamos fazer um esforçozinho e começar a ler o que ele escreveu. Vamos parar com esse negócio de ficar repetindo o que fulano defendia com sucesso na década dos anos 1960. Vamos começar a pesquisar na internet, vamos tentar ler, mesmo com certo sacrifício, bons escritores e jornalistas que pensam diferente da gente. Se quiser ir mais fundo leia A Lanterna na Popa e você vai descobrir estarrecido(a) o senso de humor, a estatura e a consistência do pensamento dele.

Opa! Já ia me perdendo com tergiversações, como diria José Teles, do Jornal do Comércio do domingo. Mas, eu advogava pelo direito de defender o aparentemente indefensável – o estilo brega -, apenas pelo fato de que nos arquivos históricos da vida alguns documentos podem mudar de posição, com ganhos significativos para as sociedades. Ou seja, esqueça o rótulo “brega” e ouça com naturalidade, como eu fiz hoje, dia do funcionário público, enquanto arrumava gavetas. Ouvi com prazer um disco de Adilson Ramos ( o que foi? não pode não, é?), onde descobri algumas pérolas do estilo brega. Olhe aqui:

Pensando em ti – Herivelto Martins e David Nasser;
Sonhar contigo – Adilson Ramos e Armelindo Leandro
Como vai você – Antônio Marcos e João Marcos...

Agora, se é pra fazer sacrifício com a tentativa de reinterpretação eu prefiro que você o faça lendo Roberto Campos ou Nelson Rodrigues, primeiro.

E aqui vão outras pérolas:

De Nelson Rodrigues:

“Tudo passa, menos a adúltera. Nos botecos e nos velórios, na esquina e nas farmácias, há sempre alguém falando nas senhoras que traem. O amor bem-sucedido não interessa a ninguém.”

“Nada mais doce, nada mais terno do que um ex-inimigo”


De Roberto Campos:

“A diferença entre a empresa privada e a empresa pública é que aquela é controlada pelo governo, e esta por ninguém.”

“O Brasil e a Argentina parecem dois bêbados cambaleantes a cabecear nos postes. Só que, enquanto a Argentina parece estar a caminho da economia de mercado, o Brasil parece estar de volta ao bar”.


Esta segunda frase de Roberto Campos foi escrita por 2002/2003 - perdão por não precisar a época. Acho que foi do começo do Governo Lula e Governo do “Kirchner marido”.
MdPB

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Armadilha

Para o homem
A consciência é tudo:
É sua prova de superioridade Sobre os animais e plantas,
É sua prova de semelhança a Deus.
Mas, de nada adianta se é dela que vem toda ignorância sobre si,
Sobre a vida e sobre Deus.

MdPB

sábado, 24 de outubro de 2009

Choro e choros

Num canto de bar
Um homem sozinho
Cansado, confuso...
Procura na vida razão pra viver.
Não acha.
Pede uma dose, relaxa.
Olha pra frente, pra cima, pro lado...
Meio atordoado
Começa a chorar.
De costas pra rua
Descartando a lua
Continua a chorar.
Som de cavaquinho, bandolim, violão
Um som de pandeiro
Alegre, maneiro
Traz seu despertar.
O choro começa
O homem se apressa
Em se aconchegar
Com grande certeza adia a tristeza
E começa a cantar.
Amanhã? ... não se sabe.
Essa pergunta não cabe.
Amanhã é amanhã.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Distrito 9

É um filme pesado. Muito bom, mas muito pesado. Ele coloca coisas muito diferentes do que geralmente é visto num filme de ficção científica. A platéia fica em silêncio esperando por algo reconfortante que não vem. O filme é inquietante o tempo todo. Fiquei estupefata com a forma como ele trata as pessoas: humanos e alienígenas???. Tem determinados momentos que dão um certo desconforto em pertencer ao grupo dos humanos. O realismo da maldade humana aparece com lupa, sem nenhum trato estético.

O filme narra a história de uma imensa nave espacial que empaca (?) sobre Johanesburgo, capital da África do Sul. Sobre a cidade, a nave para e ali permanece por três meses, quando as autoridades locais tomam a decisão de mandar helicópteros para inspecionar o ocorrido. Após entrar na nave, os humanos se deparam com uma massa de alienígenas depauperados e famintos, que não oferecem qualquer resistência. A descoberta força o governo local a tomar alguma atitude. O governo disponibiliza uma grande área nas redondezas de Johanesburgo, o Distrito 9, e ali deposita os aliens com as condições mínimas de sobrevivência, produzindo uma espécie de apartheid entre eles e os humanos. Ali eles passam a viver em tendas toscas sem nenhuma organização urbana, no meio do lixo que cresce a cada dia: uma favela de alienígenas. Eu nunca imaginei algo assim. Você já?

A tensão do filme cresce quando o personagem principal, Wikus van der Merwe, um funcionário de uma Multi-National United (MNU), com a missão de coordenar a saída dos alienígenas para um outro distrito a 200 km de Johanesburgo, inicia os procedimentos burocráticos para a mudança. A cada tenda abordada por Wikus os os aliens reagem das formas mais primitivas e a equipe de Wikus também. Em uma dessas abordagens Wikus bate em um tubo que contem um líquido que respinga sobre sua mão. Aí começa sua luta com a MNU, a ponto dele se refugiar na favela dos alienígenas por considerar ser este o local mais seguro. Aqui eu paro pra não tirar a graça dos que ainda não viram o filme.


A crítica a esse filme é muito positiva pelas novidades que ele traz. Tive o cuidado de ler algumas: Veja online, o Globo, Estado de São Paulo... (o google dá conta de todas elas). Pois bem, ela destaca como principal tema do filme o apartheit entre humanos e alienígenas. Penso eu, com a coragem de quem pode errar por não ser crítica de cinema, que, se o filme for parar aí ele trata disso mesmo. Porém se ele for ser desdobrado em Distrito 9 II, III... dá pra imaginar que ele pode estar tratando de uma coisa muito pior: a exportação de lixo vivo - ou seria "lixo étnico"?. Lembram das toneladas de lixo que aportaram no Brasil, clandestinamente, vindas da Inglaterra? Essas toneladas de lixo exportadas para o Brasil eram formadas por coisas indesejáveis que não mais cabiam na sociedade inglesa. Convido você a uma abstração não tão severa. Assista o filme e pense.

Distrito 9 é dirigido por um jovem diretor sul-africano – Neill Blomkamp e produzido pelo neozelandês Peter Jackson ( trilogia Senhor dos anéis). Tal produtor botou nas mãos de Blomkamp USD 30 milhões e já arrecadou USD 150 milhões.

MdPB

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Vitrines

Recife é uma cidade linda!
Calma, verde, educada...
Ir a um restaurante em Recife é um grande exercício de prazer: os garçons correm pra atender, as saladas dão aquela segurança de que estão limpas, a cerveja chega a tempo e a hora, e com a temperatura certa. O trânsito, mesmo o de Casa Forte, é maravilhoso!: não tem xingamentos, os motoristas param para os pedestres passarem, os pedestres agradecem com um sorriso sincero... Os pássaros correm pelo chão da Praça de Casa Forte. O sino da igreja toca como um piano. Nos shoppings somos tratados como pessoas normais, simples passantes a se distrair com uma olhadinha nas vitrines. As vendedoras? Todas batendo aquele saudável papinho de quem não tem metas a bater. Afinal, não têm metas mesmo. O dono da loja, quando viajou já sabia que não adiantava de nada fazer exigências. Em feriadão, todo mundo sabe que as metrópoles operam como um barco parado no cais. O vento continua soprando mas as velas continuam baixas.
Que beleza!
Vou começar a pensar melhor sobre as minhas saídas de Recife durante os feriadões.
MdPB

domingo, 11 de outubro de 2009

Que samba!

Tenho um amigo que está sempre por dentro de tudo que existe de bom, de médio e de ruim no cenário musical brasileiro. Mas, evidentemente, ele só ouve o que passa pelo seu acurado senso musical. Portanto, o que é realmente bom. Posso afirmar. Pois bem, há um mês atrás, num domingo, saí com esse tal amigo, sua mulher (dele, claro! – como diria Millor Fernandes: esta língua portuguesa é pau!) e uma amiga gaúcha, para conversar, matar as saudades e aproveitar a oportunidade pra tomar uma cerveja “Original “e almoçar. O casal nos apanhou em casa e, já no carro, começou aquela ansiedade: todo mundo queria falar e ouvir ao mesmo tempo. Saudade faz isto. Como eu já tenho fama de falante, tentei impor uma auto-censura, e me conformei em ficar na arquibancada da ouvida. Acurei os ouvidos a ponto de descobrir que tinha um sonzinho tocando baixinho, um samba de primeira qualidade! Não resisti. Interrompi a conversa e perguntei ao meu amigo: “o que é isto”? Ele respondeu: “ isto é um grupo daqui de Recife. O disco me foi presenteado pelo meu dentista. É bom, né”? Na hora, pensei: meu dentista já presenteou-me algumas pérolas e algumas excentricidades musicais, como por exemplo, JK, isto mesmo, Jucelino Kubitchek, cantando uma valsa antiga... Deduzi: só pode ser o mesmo dentista. Perguntei. E era. O nome do grupo é “Pouca Chinfra” e o disco tem apenas quatro faixas. Todas ótimas!
O estilo é “sambão” e balança entre Chico Buarque e Noel Rosa. As letras são bem humoradas e bem redondinhas. Alguns arranjos são impagáveis, com tudo que se tem direito: violões de 7 cordas, cavaquinho, violões comuns, instrumentos de sopro, breques espetaculares e uma grande harmonia em tudo!
Tinha consulta marcada com o dentista na semana seguinte. Já entrei no consultório reclamando a ingratidão. Na hora ganhei o disco, que tenho ouvido quase todos os dias. Nos sábados e domingos, depois das 10 da manhã, com o som um pouquinho mais alto, meus vizinhos também são brindados. Até aqui nenhuma reclamação. O disco é bom mesmo e tem no you tube.
MdPB

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Brincando de cordel

Num rasgo de alegria
Decidi comemorar
A vida como ela anda
A noite como ela está
Na falta de uma festa
Abracei o meu vizinho
Fiz no seu rosto um carinho
Fiz sua face corar
Entrei correndo, gritando
O que será?
Que será?
Descobri quase cantando
Mas não lhe posso contar
Depois direi de mansinho
Depois direi devagar
Acho o segredo bonito
Por isso devo guardar
Quando for hora te conto
Quando essa hora chegar
Te presenteio o segredo
Junto com meu despertar
Achando a vida mais bela
Achando a noite um manjar
Que me tira da gaiola
Que me joga num pomar
Por onde faço uma trela
Por onde ando a sonhar.

domingo, 27 de setembro de 2009

Tudo por um foxtrot

Hoje é domingo. Dia feito pra se dormir até tarde.
Sempre tento. Mas, jamais consigo acordar depois das 7 da manhã.
Acordar cedo deve ser um problema que vem com a idade. Será?
Digo problema porque adoro dormir.
Hoje houve um certo exagero do meu acordar: 5 horas, é cedo de mais!
Fiz um monte de coisas esperando as 10 horas pra botar uma “musiquinha” pra tocar.
Aos sábados e domingos, pela manhã, depois das 10 horas, me dou ao luxo de ouvir música como a turma dos morros de Casa Amarela: som alto e muita alegria.
Dada a necessidade de suprir a vontade de ouvir um bom disco, escarafuchei minha discoteca até encontrar um bom foxtrot. Era isto o que eu queria ouvir. Depois de um tempo encontrei um disco da coleção The Jazz Masters, 100 anos de swing, e, lá estava Billie Holiday, cantando Love me or leave me, Donaldson e Khan – não sei quem são. Sinto muito. Só sei que são ótimos.
Que foxtrot!
Do jeito como eu queria!... Cheio de saxes e pistons e com uma letra de amor desesperado, bem ao estilo Billie.
Felicidade geral.
Existem várias versões sonoras no you tube.
Curta que vale a pena.
Tudo por um foxtrot!

Aqui vai a letra:

LOVE ME OR LEAVE ME

This suspense
is killing me
I can't stand uncertainty
Tell me now I've got to know
Whether you want me to stay or go
Love me or leave me

Or let me be lonely
You won't believe me,
I love you only
I'd rather be lonely
Then happy with somebody else
You might find the night time

The right time for kissing
But night time is my time
For just reminiscing
Regretting instead of forgetting
With somebody else
There'll be no one

Unless that someone is you
I intend to be independently blue
I want your love
But I don't want to borrow
To have it today
To give back tomorrow
For your love is my love
There's no love for nobody else.

MdPB

sábado, 26 de setembro de 2009

Só o liberalismo salva

Sou liberal.
Mais na economia do que na vida.
Na vida às vezes esbarrei em condutas semelhantes às dos sertanejos brabos, principalmente com meus filhos, quando eram adolescentes. Agora não mais. Também não tem mais razão pra isto.
Mas, o liberalismo a que eu me referia é o da economia.
Confesso, estou morrendo de medo da onda de estatizações que está ocorrendo nesses últimos tempos, por causa da crise. Dá pra entender a necessidade que têm os paises de tentar resolver seus problemas macroeconômicos com somas exorbitantes de dinheiro público. Dá pra entender, também, que só com grandes somas financeiras os governos podem evitar o pior. E, ainda, dá pra entender que somente os governos têm capacidade para isto, dadas suas peculiaridades: cobram impostos e emitem moedas. Em tese podem garantir quase tudo em termos financeiros.
Meu medo é a ideologização do tema. Aceito a situação como medida profilática, mas considero um retrocesso a volta da idéia de controle da economia pelos governos. Isto não é coisa boa. Não é. A história atual mostra que onde foram plantadas idéias estatizantes brotaram ambientes autoritários, atrasados e pobres. Basta prestar atenção em Cuba e na Coréia do Norte. Vamos esquecer a Nicarágua Sandinista. Tá certo, a Nicarágua já era pobre, mas, convenhamos, empobreceu muito mais.

Chorei muito quando Allende foi deposto do governo chileno e morto, em 1973. Até ali dava pra chorar mesmo. A utopia socialista estava somente em suspeição, e, apenas em ambientes intelectuais muito restritos. A esperança era muito maior que a suspeita do fracasso. E tome choro! Agora, não. Dados claros existem que desmontam o sonho socialista da forma como até aqui foi defendido e praticado. Por esta razão concordo com Carlos Alberto Sardenberg quando diz que quanto mais democracia, melhor; quanto mais capitalismo,melhor; quanto mais mercado, melhor.

O grande problema é que defender o socialismo é muito mais fácil. Qualquer pessoa entende e se identifica com ele, pelo bem que ele parece trazer. Difícil é defender o capitalismo, com seu caráter individualista e com suas incertezas e espertezas.

O surpreendente é que, quem um dia foi socialista morre com a esperança de ver o socialismo acontecer. Para esses, como eu, resta a esperança de vê-lo chegar pelo superdesenvolvimento do capitalismo em conjunto com uma boa organização da sociedade civil, através do fortalecimento das instituições democráticas, como parece já ocorrer nos paises baixos.

MdPB

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Revendo e reinterpretando

Puxa vida!
Revendo a minha postagem de 09 de agosto dá pra imaginar how bad I was that day.
Isto não é comum em mim.
No geral tenho um altíssimo astral e não faço concessão aos maus presságios.
Sou de bem com a vida.
Tenho uma relação estreita e muito bem resolvida com a solidão. Exceto quando termino de ler um bom livro em dia de chuva. Aí não consigo iniciar a leitura de um novo e também não consigo me desapegar daquele que acabei de ler. A última vez que tive um sentimento meio chato como este aconteceu quando terminei a releitura de O Estrangeiro, de Albert Camus, há uns seis meses atrás. Era um sábado chuvoso sem nada no horizonte. Terminar o livro pareceu-me terminar uma etapa da vida sem preparo pra iniciar a próxima.
Li O Estrangeiro pela primeira vez quando tinha dezoito anos. Amei! Mas jamais da forma como quando fiz a releitura. É sempre muito bom revisitar a vida através dos livros. É bom também o sentimento de sabedoria quando a gente descobre uma nova forma nos ambientes e nos personagens. E isto só é possível na releitura.
Tomei um susto logo no primeiro parágrafo. É incrível a indiferença do personagem principal, Meursault, quando recebe a notícia da morte da Mãe: “Hoje, mamãe morreu. Ou talvez ontem, não sei bem. Recebi um telegrama do asilo: "Sua mãe faleceu. Enterro amanhã. Sentidos pêsames." Então ele pensa: “ Isso não esclarece nada. Talvez tenha sido ontem”. E segue a estória dele e de sua ausência de emoção para com tudo que é supostamente importante para a grande maioria das pessoas. Aconselho a releitura desse livro, pela maestria de Camus na construção do perfil psicológico de Meursault. Depois, pela compatibilidade da personalidade dele com a cena final do livro. Aconselho a leitura também, claro, senão fica inviabilizada a releitura.
Mas, voltando ao início. Eu falava do meu estado depressivo do dia 09 de agosto. Aconteceu por razões objetivas. Ainda bem! Depressão preocupante é aquela sem motivo objetivo. Tudo sanado. Estou pronta pra outra. Porém, com esperança de que isto não ocorra novamente. Depressão é um bicho meio feioso. Prefiro cantar, dançar, sair... ou, iniciar a leitura de um bom livro em um sábado chuvoso.

domingo, 23 de agosto de 2009

Reputação

No dia 02 de julho, postei um comentário sobre o comportamento do Presidente Lula em relação à defesa do senador Sarney. Ali eu digo que ele, Lula, escolheu proteger Sarney “arriscando a reputação do Senador Mercadante, que fez discursos de idas e vindas, para obedecer a Lula em seus pedidos de defesa a Sarney”. Considerando os últimos acontecimentos, em que o senador Mercadante num arroubo coberto de bom senso, renunciou à liderança do governo no Senado e, por imposição de Lula, renunciou à renúncia que teria sido em caráter irrevogável,

hoje me pergunto: que reputação?

Que coisa, hem?

Imagine você a cara de Mercadante quando Ricardo Berzoini, presidente nacional do PT, também a pedido de Lula, radicalizou: “qual será mesmo o teu partido na eleição de 2010”?

Cacilda!!! prefiro meus problemas...

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Equívoco

"A verdade pode surgir do erro,
Mas não da confusão."

F. Bacon

Escolha

"A felicidade de que preciso
Não é a de fazer o que quero,
Mas a de não fazer
O que não quero."

Rousseau

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Plagiando Aurélio 3

Dividir:

Partir em diversas partes;
Separar as diversas partes;
Desunir;
Estabelecer desavença entre;
Por em discórdia;
Limitar...

Plagiando Aurélio 2

Legítimo:

Conforme a lei;
Legal;
Fundado no direito, na razão ou na justiça;
Autêntico;
Genuíno;
Lógico;
Procedente.

Em Faulkner o primitivismo legitima tudo.

Indecisão

“A indecisão acontece quando a gente sabe muito bem o que quer, mas acha que deveria optar por outra coisa.”

Autor desconhecido

domingo, 9 de agosto de 2009

Fracasso

“A fórmula do sucesso eu ainda não sei;
mas a do fracasso é querer contentar a todos.”

Autor desconhecido

Preguiça

Palavra que melhor expressa minha vida agora.
Preguiça de cantar, de dançar, de sair...
Preguiça de viver.
Vontade de coisas impossíveis:
Voar,
Mergulhar em mar profundo...
No fundo, a vontade é de deitar
Dormir um sono bem manso,
Bem lento,
Tão longo...
Um nunca acordar.

Superação

“O fracasso é a oportunidade de começar de novo inteligentemente.”

Henry Ford

Parcialidade

“A verdade é um espelho que caiu do céu e se quebrou. Cada um recolhe um pedaço e diz que toda a verdade está no caquinho que carrega.”

Provérbio Iraniano

Plagiando Aurélio

Decepção:

Malogro de uma esperança;
Desilusão;
Desengano;
Desapontamento;
Contrariedade;
Desgosto;
Surpresa desagradavel.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Talvez um amor

Preciso de algo novo em minha vida
Um sopro novo de ar
Uma paisagem de mar
Uma viela
Varanda
Flores na janela
Banana, queijo, açúcar, canela
Um barco ao vento a balançar
Bandeiras brancas ou azuis
Canções calientes ou blues
Canto de passarinho
Um ninho
Pra nele me jogar.

domingo, 19 de julho de 2009

A frase certa dita pela pessoa, provavelmente, errada

" Os cínicos relativizam os valores e os tratam apenas como meios de atingir seus objetivos. Os estadistas baseiam suas decisões práticas em convicções morais."

Henry Kissinger
ex-secretário de Estado americano

Cuma?

"Eu quero fazer justiça ao comportamento do senador Collor e do senador Renan Calheiros, que têm dado uma sustentação muito grande aos trabalhos do governo no Senado"

Presidente Lula
QUEM?

sábado, 18 de julho de 2009

Lina Vieira e o Brasil

Verdadeiramente, este pais não é sério.
Vamos aguardar os acontecimentos. Mas, a probabilidade é muito alta, quase igual a 1, de que a demissão de Lina Vieira da Secretaria da Receita Nacional tem a ver com seu perfil. Ela é conhecida na Receita Federal como durona. Ora, no setor público brasileiro o adjetivo "durão" ou "durona" sempre está associado a pessoas trabalhadoras, responsáveis, comprometidas e, principalmente, honestas.
Vamos acompanhar os desdobramentos da CPI da PETROBRAS. Mesmo com as jogadas de mestre do governo pra esconder as falcatruas que envolvem a Estatal eu não acredito que o desfecho vá ser bom para o governo.
Saiu Lina Vieira e o Brasil perdeu.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Minhas crenças sobre Lula

É líder,
Se tivesse usado a liderança em prol do Brasil seriamos hoje um país muito melhor.
Não quis, preferiu usar seu potencial de líder em prol de si próprio, de sua família e dos amigos.
É inteligente,
Se tivesse usado a inteligência em prol do Brasil teríamos um futuro mais ético e mais civilizado em um menor espaço de tempo.
Não quis, optou por usar sua inteligência para enganar as classes C e D e, de quebra, alguns intelectuais desavisados que, de costas para o futuro e com o olho no próprio umbigo não enxergam que o mundo mudou e que, junto com ele, deveriam ter mudado os discursos e a forma de engajamento político.
É cínico
Se usasse a capacidade de liderança e a inteligência poderia aproveitar o episódio de corrupção explícita de José Sarney e de outros senadores para dar lição sobre a importância da ética para o desenvolvimento civilizatório do Brasil, ou, para mostrar o mal que o nepotismo, a privatização do aparelho estatal e a desmoralização da instituição Senado causam à democracia.
Não usou, escolheu proteger Sarney arriscando a reputação do Senador Mercadante, que teve de fazer diversos discursos de ataque e proteção, proteção e ataque a Sarney diante dos seus apelos na busca incessante de manter o poder pelo poder. E pouca gente enxerga.
É bruxo.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Epitáfio

Aqui jaz,
pobre como eu,
O meu poema ateu.

domingo, 17 de maio de 2009

Quebra língua

Consciência:
Rápida,
Síncope,
Estúpida.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Amores "susanos"

Ela está nos sessenta
Busca um de vinte.
Ele quer status, sapatos, dinheiro...
Ela amor.

O tempo
É o tempo da paixão
De ambos:
Do novo, da alegria, dos noivos...

Passada a novidade
Ele se move em outro tempo,
Outro espaço, outro horizonte.

Ela, provedora confiante, com o troféu de amante,
Não encherga o novo tempo e espaço dele.
Perplexa, descobre que o tempo é da outra
Que entrou onde não "tinha direito".
Choro, gritos de indignação,
Ela não vê que o problema é sua escolha.
... Escolha...?
Que escolha?
E ela segue pagando o preço do novo, da alegria, do noivo,
Até a próxima decepção.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Sou contra

Religião? sou contra.
Ela é o culto oficial ao medo.
A maior inimiga da racionalidade.
Irracionalidade?
Também sou contra.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Quase raicai

Voo sobre o tsunami

A borboleta colorida
Voa alto estarrecida
Com os esperneios do mar.

domingo, 29 de março de 2009

Será?

A morte
É o fim da espera
O começo da vastidão
O mergulhar no eterno:
Sem mente
Sem alma
Sem passado
Sem talvez
Sem nada no horizonte
Sem trânsito
Sem contramão
Apenas vida
Numa outra dimensão.

sábado, 28 de março de 2009

Pressentimento

Na lagoa
O passarinho canta
Inseguro sobre o dia de amanhã.

quarta-feira, 25 de março de 2009

O que mora em mim

Dentro de mim
Há um turbilhão
Um coração
A calmaria.

Dentro de mim
Há confusão
Há tempestade
Há alegria.

Dentro de mim...
Dentro de mim...
Moram o deserto, o oasis
A agonia e o festim
Tudo isto em harmonia
Tudo isto mora em mim.

terça-feira, 24 de março de 2009

Saudade

Meu tempo feliz
Teu tempo feliz
Minha saudade feliz.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Gaiola

Meu amor está trancado
Como se fosse um canário
Numa gaiola sem porta.
Meu amor ficou capenga
Cego, surdo e sem noção
Sem delírio ou emoção,
Com preguiça de viver.

terça-feira, 10 de março de 2009

Alegria

A morte não faz diferença.
Para quem não tem crença,
Somente a vida faz.

domingo, 8 de março de 2009

Insônia

Não durmo
Não desespero
Leio poesia e espero
O amanhecer do dia.

sábado, 7 de março de 2009

Surpresa

Queria escrever poemas
Que estarrecessem poetas
De surpresa pelo escrito
Que chocassem as pessoas
Pela beleza do dito.
Como não consigo,
Estarreço a mim mesma
E com minha própria surpresa
Prossigo.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Melancolia

Viajo na noite
Em busca do meu sorriso
Encontro um tempo perdido
Fincado no coração
Volto sorrindo, lembrando:
Como era fácil sonhar,
Como era simples viver,
Como era doce acordar.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Invasão

Como uma música
Invadiu minh`alma.
Como uma luz
Clareou meu coração
E como uma sombra
Assombra minha solidão.

terça-feira, 3 de março de 2009

A Ilha

Em Cuba
A vida corre, o tempo não.
Agora o tempo corre a vida caminha.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Sobre blocos e orquestras

Segui blocos pelas ruas
Ouvi frevos e canções
Cantei cantigas antigas
Busquei som de violões.
O barulho sufocante
Cobre o belo, tira o encanto.
A orquestra se acomoda
Faz um som “pasteuririzado”
Com batida repetida
Tira o breque esperado
Contraria o folião
Que se sente rejeitado.
Gosto do frevo sincero
Com breque, apito e compasso
Adoro o bater do surdo
Dando ordem no pedaço
Quero meus breques de volta.
Pago promessa, eu juro!
Botem meus breques de volta
Me tirem desse apuro.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Sonho azul

Hoje a tarde eu tive um sonho.
Um sonho de intenso azul.
Dormi com a janela aberta,
O céu varou a vidraça e,
De graça,
Comigo se deitou.
Sem nuvem, sem pressa, sem ânsia
Apenas com ânsia de azul.

Tudo

O amor é quase tudo
Porque tudo é a vida.

Ciume

A lua
Vagava nua pelo céu.
Veio um anjo ciumento a vestiu de nuvem
E partiu.

Indiferença

Pelo jeito,
Não há poesia no Universo.
Ele não liga pra rima,
Métrica ou verso.

Acaso consciente

A vida é a dádiva
De um acaso
Que aparenta saber o que quer.

Cadeira de balanço

Do fundo do mar
A terra se levanta.
Na praia, o mar recua.
A menina grita de medo:
-Tsunami! Tsunami!
Todos correm
Sem imaginar que,
Naquele instante,
A terra apenas buscava uma melhor acomodação
Em sua imensa cadeira de balanço.

Joana do carnaval

Eu queria crer em Deus.
Ficava calma minh’alma
A vida ficava em paz
A natureza um cartaz
De beleza infinita
Me sentiria bonita
Em ser chamada Da Paz.
Não me sinto mal de mais
Mas a busca é insana
Queria chamar-me Joana
E morar no carnaval
Com alegria eterna
Cores, flores e amores,
Fantasia de Arlequim
Ou quem sabe de anjo
Até achar um arcanjo
A se interessar por mim.
Mas tinha que ser perfeito
Exatamente do jeito:
Assim, assim e assim.
E como qualquer dos anjos
Subiríamos flutuando
Lá de cima observando
A vida e suas contendas.
Sem pensar em qualquer crença
E com ar superior
Embriagados de amor
Flutuávamos dançando.

Tempestade

Lá fora
A Natureza chora
Cansada de se mostrar
Para uma platéia cega.

Necessidade

O tempo não existe.
O homem, porque pensa,
Pensa que ele existe.

Começo e fim

...E o céu fez-se poeira
E a poeira luz
A luz formou a vida
A vida a consciência
A consciência o egoísmo, a ignorância e a morte...

Caos

Na avenida Norte
A morte é opção do motorista:
À direita, o motoqueiro.
Na contramão, o ciclista.

Colheita

"Se queres colher a curto prazo,
Planta cereais;
Se queres colher a longo prazo,
Planta árvores frutíferas;
Se queres colher para sempre,
Treina e educa o homem.

"Provérbio chinês "

Viagem

Na vida as coisas aparentam se comportar mais ou menos como os números. Se observarmos a parte que conhecemos dos números temos o seguinte:Uma parte desconhecida, à esquerda do zero, que convencionou-se chamar infinito negativo. E outra parte, à direita do zero, que convencionou-se chamar infinito positivo. A idéia de infinito é apenas conceitual. Mas todo mundo sabe que significa uma coisa muito grande e muito distante no espaço, no tempo e na mente se a gente quiser simplificar.
Então, numericamente falando, a estória é mais ou menos assim: -infinito.....-n......-3,-2,-1,0,+1,+2,+3......+n.....+infinito. A parte conhecida dos números é aquela que fica próxima do zero. Na vida dos humanos, pelo menos, temos: o desconhecido (antes do nascimento), o conhecido (a vida) e o desconhecido (após a morte). O ponto de consonância dos números com a vida é exatamente o zero. Ele existe, ele é neutro (nem positivo nem negativo), matematicamente falando ele não é vazio... etc... como a vida...

Esses escritos foram feitos como introdução ao minúsculo pensamento a seguir:

O zero e a vida

Menos infinito, não conheço.
Mais infinito, também não.
No entorno do zero acontece o presente e a consciência da vida.