quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Distrito 9

É um filme pesado. Muito bom, mas muito pesado. Ele coloca coisas muito diferentes do que geralmente é visto num filme de ficção científica. A platéia fica em silêncio esperando por algo reconfortante que não vem. O filme é inquietante o tempo todo. Fiquei estupefata com a forma como ele trata as pessoas: humanos e alienígenas???. Tem determinados momentos que dão um certo desconforto em pertencer ao grupo dos humanos. O realismo da maldade humana aparece com lupa, sem nenhum trato estético.

O filme narra a história de uma imensa nave espacial que empaca (?) sobre Johanesburgo, capital da África do Sul. Sobre a cidade, a nave para e ali permanece por três meses, quando as autoridades locais tomam a decisão de mandar helicópteros para inspecionar o ocorrido. Após entrar na nave, os humanos se deparam com uma massa de alienígenas depauperados e famintos, que não oferecem qualquer resistência. A descoberta força o governo local a tomar alguma atitude. O governo disponibiliza uma grande área nas redondezas de Johanesburgo, o Distrito 9, e ali deposita os aliens com as condições mínimas de sobrevivência, produzindo uma espécie de apartheid entre eles e os humanos. Ali eles passam a viver em tendas toscas sem nenhuma organização urbana, no meio do lixo que cresce a cada dia: uma favela de alienígenas. Eu nunca imaginei algo assim. Você já?

A tensão do filme cresce quando o personagem principal, Wikus van der Merwe, um funcionário de uma Multi-National United (MNU), com a missão de coordenar a saída dos alienígenas para um outro distrito a 200 km de Johanesburgo, inicia os procedimentos burocráticos para a mudança. A cada tenda abordada por Wikus os os aliens reagem das formas mais primitivas e a equipe de Wikus também. Em uma dessas abordagens Wikus bate em um tubo que contem um líquido que respinga sobre sua mão. Aí começa sua luta com a MNU, a ponto dele se refugiar na favela dos alienígenas por considerar ser este o local mais seguro. Aqui eu paro pra não tirar a graça dos que ainda não viram o filme.


A crítica a esse filme é muito positiva pelas novidades que ele traz. Tive o cuidado de ler algumas: Veja online, o Globo, Estado de São Paulo... (o google dá conta de todas elas). Pois bem, ela destaca como principal tema do filme o apartheit entre humanos e alienígenas. Penso eu, com a coragem de quem pode errar por não ser crítica de cinema, que, se o filme for parar aí ele trata disso mesmo. Porém se ele for ser desdobrado em Distrito 9 II, III... dá pra imaginar que ele pode estar tratando de uma coisa muito pior: a exportação de lixo vivo - ou seria "lixo étnico"?. Lembram das toneladas de lixo que aportaram no Brasil, clandestinamente, vindas da Inglaterra? Essas toneladas de lixo exportadas para o Brasil eram formadas por coisas indesejáveis que não mais cabiam na sociedade inglesa. Convido você a uma abstração não tão severa. Assista o filme e pense.

Distrito 9 é dirigido por um jovem diretor sul-africano – Neill Blomkamp e produzido pelo neozelandês Peter Jackson ( trilogia Senhor dos anéis). Tal produtor botou nas mãos de Blomkamp USD 30 milhões e já arrecadou USD 150 milhões.

MdPB

2 comentários:

  1. oi, da Paz:
    acabo de postar um comentário inspirado nesta tua postagem. controlei-me para não fazer uma de minhas "postagens longas." ainda assim, faltou muita coisa. agora, ao reler-te, penso que precisamos "arrancar alegria ao futuro", ou seja, entender mesmo os filmes de distopia como permitindo construirmos utopias. permitindo-nos pensar na sociedade que desejamos. quando me deparei com o conceito de John Rawls que quer
    .a. liberdade
    .b. igualdade
    entendi que é isto mesmo: liberdade em primeiro lugar, pois é eminentemente política e igualdade em segundo, que -além de política- também é econômica.
    DdAB

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  2. Oi, Duilio:
    Vou tentando encontrar coisas boas para o futuro, mas o esforço tem que ser muito grande. Do ponto de vista pessoal/individual eu não tenho muito do que me queixar. Mas do ponto de vista coletivo acho que tudo ainda está muito primitivo. Num estágio em que o desenvolvimento civilizatório da humanidade (puxa,estou tão boçal hoje...)ainda é tão rústico e com a perspectiva global de falta d'água fica ainda mais difícil imaginar o binário de John Rawls, citado no seu comentário. Mas, vamos lá; a esperança tem que ser um bom combustível pra continuarmos tocando o barco. Agora vou correndo ler tua postagem de hoje.
    MdPB

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