sábado, 21 de novembro de 2009

A “estúpida retórica” de Caetano Veloso

É surpreendente a atualidade da letra de Caetano Veloso em “Podres Poderes”. A música é de 1984. De lá pra cá a terra deu mais de 9000 voltas e tudo permanece muito parecido na América Latina. A diferença é que tudo soa como o “avesso do avesso”. Dê uma olhada na letra:

Podres Poderes
Caetano Veloso


Enquanto os homens exercem
Seus podres poderes
Motos e fuscas avançam
Os sinais vermelhos
E perdem os verdes
Somos uns boçais...

Queria querer gritar
Setecentas mil vezes
Como são lindos
Como são lindos os burgueses
E os japoneses
Mas tudo é muito mais...

Será que nunca faremos
Senão confirmar
A incompetência
Da América católica
Que sempre precisará
De ridículos tiranos

Será, será, que será?
Que será, que será?
Será que esta
Minha estúpida retórica
Terá que soar
Terá que se ouvir
Por mais zil anos...

Enquanto os homens exercem
Seus podres poderes
Índios e padres e bichas
Negros e mulheres
E adolescentes
Fazem o carnaval...

Queria querer cantar
Afinado com eles
Silenciar em respeito
Ao seu transe num êxtase
Ser indecente
Mas tudo é muito mau...

Ou então cada paisano
E cada capataz
Com sua burrice fará
Jorrar sangue demais
Nos pantanais, nas cidades

Caatingas e nos gerais

Será que apenas
Os hermetismos pascoais
E os tons, os mil tons
Seus sons e seus dons geniais
Nos salvam, nos salvarão
Dessas trevas e nada mais...
Enquanto os homens exercem
Seus podres poderes
Morrer e matar de fome
De raiva e de sede
São tantas vezes
Gestos naturais...

Eu quero aproximar
O meu cantar vagabundo
Daqueles que velam
Pela alegria do mundo
Indo e mais fundo
Tins e bens e tais...

Será que nunca faremos
Senão confirmar
A incompetência
Da América católica
Que sempre precisará
De ridículos tiranos

Será, será, que será?
Que será, que será?
Será que essa
Minha estúpida retórica
Terá que soar
Terá que se ouvir
Por mais zil anos...

Ou então cada paisano
E cada capataz
Com sua burrice fará
Jorrar sangue demais
Nos pantanais, nas cidades
Caatingas e nos gerais...

Será que apenas
Os hermetismos pascoais
E os tons, os mil tons
Seus sons e seus dons geniais
Nos salvam, nos salvarão
Dessas trevas e nada mais...

Enquanto os homens
Exercem seus podres poderes
Morrer e matar de fome
De raiva e de sede
São tantas vezes
Gestos naturais

Eu quero aproximar
O meu cantar vagabundo
Daqueles que velam
Pela alegria do mundo...
Indo mais fundo
Tins e bens e tais!
Indo mais fundo
Tins e bens e tais!
Indo mais fundo
Tins e bens e tais!

Aqui vai o endereço para você assistir ao video:
http://letras.terra.com.br/caetano-veloso/44764/

MdPB

2 comentários:

  1. 1984? isto era o último ano do Figueiredo? cheiro de cavalo? depois, Sarney? o homem que não foi vice-presidente, sendo promovido diretamente a presidente, pois o titular nunca tomou posse? e depois os passa-tempos como as campanhas pela constituinte, pela monarquia, pelo presidencialismo, pela proibição de armas? qual será a próxima? revisão constitucional? volta e meia, digo-me que minha profissão é entender o Brasil e não sofrer com ele. volta e meia entendo o Brasil e, quase todo o dia, sofro com ele.
    DdAB

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  2. ...e na América Latina o Brasil é o melhor de todos! Em termos de organização social, hoje, ele só perde para o Chile... Que coisa, né? E vamos sofrer, Duilio!

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