quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O Brega pode ser bom!

Gostou não?
Vamos combinar:
a) sem cara feia;
b) com os ombros molinhos;
c) com abertura pra reinterpretações:
O BREGA PODE SER BOM!!!
Chocado com as “capital letters”?
Pois vamos aos argumentos:
Nada pode ser descartado, de cara, porque tudo tem seu lugarzinho e sua horazinha pra viver e acontecer. Exemplo: Nelson Rodrigues já foi execrado pela intelligentsia brasileira nos anos 1960/70, por ser considerado brega, sobretudo pela turma da esquerda. Aí estávamos eu, quase todos os meus irmãos e quase todos os nossos amigos. Todos arrebanhados pela turma do Pasquim (semanário carioca que fez a cabeça de parte da juventude brasileira do final dos anos 1960 e toda década de 1970) . Hoje ele (Nelson Rodrigues) está entre os melhores dramaturgos e pensadores brasileiros, principalmente por falar de forma crítica e muito objetiva sobre a trivialidade da rotina brasileira e da sua “cultura hipócrita”. O mesmo aconteceu com Roberto Campos, o “Bob Fields,” ex-deputado federal, também execrado pelo mesmo Pasquim e pela mesma turma de esquerda. Ele nunca foi de esquerda. Este foi seu grande pecado! Pra mim, os melhores pensadores latino-americanos de hoje são aqueles que um dia foram de esquerda e conseguiram dar o salto para a social-democracia (Mário Vargas Llosa, Arnaldo Jabor-principalmente fora da internet rs, rs, além de outros). Ou seja, que deixaram de pensar em centralizações, estatizações, dentre outros males, e passaram a aceitar o mercado como instância razoável para decidir sobre as questões básicas da economia: o que, quando, como e a que custo produzir. Claro que não estou falando aqui do mercado solto “de canga e corda” como costumam dizer os sertanejos. Mas, do mercado com as “regulações” desejáveis, que corrigem os exageros e evitam o surgimento de bolhas. Roberto Campos sempre foi um liberal empedernido e assim morreu. Não sem antes ter tido o seu lugarzinho no cenário intelectual e político brasileiro. Tá certo. Aceito o argumento de que ele serviu à ditadura. Ele serviu mesmo. Porém, resta um pequeno espaço de defesa: a ditadura estava “lutando”(?) contra algo que ele também era contra. Concordo que defender Roberto Campos não é fácil. Mas, pelo menos vamos fazer um esforçozinho e começar a ler o que ele escreveu. Vamos parar com esse negócio de ficar repetindo o que fulano defendia com sucesso na década dos anos 1960. Vamos começar a pesquisar na internet, vamos tentar ler, mesmo com certo sacrifício, bons escritores e jornalistas que pensam diferente da gente. Se quiser ir mais fundo leia A Lanterna na Popa e você vai descobrir estarrecido(a) o senso de humor, a estatura e a consistência do pensamento dele.

Opa! Já ia me perdendo com tergiversações, como diria José Teles, do Jornal do Comércio do domingo. Mas, eu advogava pelo direito de defender o aparentemente indefensável – o estilo brega -, apenas pelo fato de que nos arquivos históricos da vida alguns documentos podem mudar de posição, com ganhos significativos para as sociedades. Ou seja, esqueça o rótulo “brega” e ouça com naturalidade, como eu fiz hoje, dia do funcionário público, enquanto arrumava gavetas. Ouvi com prazer um disco de Adilson Ramos ( o que foi? não pode não, é?), onde descobri algumas pérolas do estilo brega. Olhe aqui:

Pensando em ti – Herivelto Martins e David Nasser;
Sonhar contigo – Adilson Ramos e Armelindo Leandro
Como vai você – Antônio Marcos e João Marcos...

Agora, se é pra fazer sacrifício com a tentativa de reinterpretação eu prefiro que você o faça lendo Roberto Campos ou Nelson Rodrigues, primeiro.

E aqui vão outras pérolas:

De Nelson Rodrigues:

“Tudo passa, menos a adúltera. Nos botecos e nos velórios, na esquina e nas farmácias, há sempre alguém falando nas senhoras que traem. O amor bem-sucedido não interessa a ninguém.”

“Nada mais doce, nada mais terno do que um ex-inimigo”


De Roberto Campos:

“A diferença entre a empresa privada e a empresa pública é que aquela é controlada pelo governo, e esta por ninguém.”

“O Brasil e a Argentina parecem dois bêbados cambaleantes a cabecear nos postes. Só que, enquanto a Argentina parece estar a caminho da economia de mercado, o Brasil parece estar de volta ao bar”.


Esta segunda frase de Roberto Campos foi escrita por 2002/2003 - perdão por não precisar a época. Acho que foi do começo do Governo Lula e Governo do “Kirchner marido”.
MdPB

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Armadilha

Para o homem
A consciência é tudo:
É sua prova de superioridade Sobre os animais e plantas,
É sua prova de semelhança a Deus.
Mas, de nada adianta se é dela que vem toda ignorância sobre si,
Sobre a vida e sobre Deus.

MdPB

sábado, 24 de outubro de 2009

Choro e choros

Num canto de bar
Um homem sozinho
Cansado, confuso...
Procura na vida razão pra viver.
Não acha.
Pede uma dose, relaxa.
Olha pra frente, pra cima, pro lado...
Meio atordoado
Começa a chorar.
De costas pra rua
Descartando a lua
Continua a chorar.
Som de cavaquinho, bandolim, violão
Um som de pandeiro
Alegre, maneiro
Traz seu despertar.
O choro começa
O homem se apressa
Em se aconchegar
Com grande certeza adia a tristeza
E começa a cantar.
Amanhã? ... não se sabe.
Essa pergunta não cabe.
Amanhã é amanhã.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Distrito 9

É um filme pesado. Muito bom, mas muito pesado. Ele coloca coisas muito diferentes do que geralmente é visto num filme de ficção científica. A platéia fica em silêncio esperando por algo reconfortante que não vem. O filme é inquietante o tempo todo. Fiquei estupefata com a forma como ele trata as pessoas: humanos e alienígenas???. Tem determinados momentos que dão um certo desconforto em pertencer ao grupo dos humanos. O realismo da maldade humana aparece com lupa, sem nenhum trato estético.

O filme narra a história de uma imensa nave espacial que empaca (?) sobre Johanesburgo, capital da África do Sul. Sobre a cidade, a nave para e ali permanece por três meses, quando as autoridades locais tomam a decisão de mandar helicópteros para inspecionar o ocorrido. Após entrar na nave, os humanos se deparam com uma massa de alienígenas depauperados e famintos, que não oferecem qualquer resistência. A descoberta força o governo local a tomar alguma atitude. O governo disponibiliza uma grande área nas redondezas de Johanesburgo, o Distrito 9, e ali deposita os aliens com as condições mínimas de sobrevivência, produzindo uma espécie de apartheid entre eles e os humanos. Ali eles passam a viver em tendas toscas sem nenhuma organização urbana, no meio do lixo que cresce a cada dia: uma favela de alienígenas. Eu nunca imaginei algo assim. Você já?

A tensão do filme cresce quando o personagem principal, Wikus van der Merwe, um funcionário de uma Multi-National United (MNU), com a missão de coordenar a saída dos alienígenas para um outro distrito a 200 km de Johanesburgo, inicia os procedimentos burocráticos para a mudança. A cada tenda abordada por Wikus os os aliens reagem das formas mais primitivas e a equipe de Wikus também. Em uma dessas abordagens Wikus bate em um tubo que contem um líquido que respinga sobre sua mão. Aí começa sua luta com a MNU, a ponto dele se refugiar na favela dos alienígenas por considerar ser este o local mais seguro. Aqui eu paro pra não tirar a graça dos que ainda não viram o filme.


A crítica a esse filme é muito positiva pelas novidades que ele traz. Tive o cuidado de ler algumas: Veja online, o Globo, Estado de São Paulo... (o google dá conta de todas elas). Pois bem, ela destaca como principal tema do filme o apartheit entre humanos e alienígenas. Penso eu, com a coragem de quem pode errar por não ser crítica de cinema, que, se o filme for parar aí ele trata disso mesmo. Porém se ele for ser desdobrado em Distrito 9 II, III... dá pra imaginar que ele pode estar tratando de uma coisa muito pior: a exportação de lixo vivo - ou seria "lixo étnico"?. Lembram das toneladas de lixo que aportaram no Brasil, clandestinamente, vindas da Inglaterra? Essas toneladas de lixo exportadas para o Brasil eram formadas por coisas indesejáveis que não mais cabiam na sociedade inglesa. Convido você a uma abstração não tão severa. Assista o filme e pense.

Distrito 9 é dirigido por um jovem diretor sul-africano – Neill Blomkamp e produzido pelo neozelandês Peter Jackson ( trilogia Senhor dos anéis). Tal produtor botou nas mãos de Blomkamp USD 30 milhões e já arrecadou USD 150 milhões.

MdPB

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Vitrines

Recife é uma cidade linda!
Calma, verde, educada...
Ir a um restaurante em Recife é um grande exercício de prazer: os garçons correm pra atender, as saladas dão aquela segurança de que estão limpas, a cerveja chega a tempo e a hora, e com a temperatura certa. O trânsito, mesmo o de Casa Forte, é maravilhoso!: não tem xingamentos, os motoristas param para os pedestres passarem, os pedestres agradecem com um sorriso sincero... Os pássaros correm pelo chão da Praça de Casa Forte. O sino da igreja toca como um piano. Nos shoppings somos tratados como pessoas normais, simples passantes a se distrair com uma olhadinha nas vitrines. As vendedoras? Todas batendo aquele saudável papinho de quem não tem metas a bater. Afinal, não têm metas mesmo. O dono da loja, quando viajou já sabia que não adiantava de nada fazer exigências. Em feriadão, todo mundo sabe que as metrópoles operam como um barco parado no cais. O vento continua soprando mas as velas continuam baixas.
Que beleza!
Vou começar a pensar melhor sobre as minhas saídas de Recife durante os feriadões.
MdPB

domingo, 11 de outubro de 2009

Que samba!

Tenho um amigo que está sempre por dentro de tudo que existe de bom, de médio e de ruim no cenário musical brasileiro. Mas, evidentemente, ele só ouve o que passa pelo seu acurado senso musical. Portanto, o que é realmente bom. Posso afirmar. Pois bem, há um mês atrás, num domingo, saí com esse tal amigo, sua mulher (dele, claro! – como diria Millor Fernandes: esta língua portuguesa é pau!) e uma amiga gaúcha, para conversar, matar as saudades e aproveitar a oportunidade pra tomar uma cerveja “Original “e almoçar. O casal nos apanhou em casa e, já no carro, começou aquela ansiedade: todo mundo queria falar e ouvir ao mesmo tempo. Saudade faz isto. Como eu já tenho fama de falante, tentei impor uma auto-censura, e me conformei em ficar na arquibancada da ouvida. Acurei os ouvidos a ponto de descobrir que tinha um sonzinho tocando baixinho, um samba de primeira qualidade! Não resisti. Interrompi a conversa e perguntei ao meu amigo: “o que é isto”? Ele respondeu: “ isto é um grupo daqui de Recife. O disco me foi presenteado pelo meu dentista. É bom, né”? Na hora, pensei: meu dentista já presenteou-me algumas pérolas e algumas excentricidades musicais, como por exemplo, JK, isto mesmo, Jucelino Kubitchek, cantando uma valsa antiga... Deduzi: só pode ser o mesmo dentista. Perguntei. E era. O nome do grupo é “Pouca Chinfra” e o disco tem apenas quatro faixas. Todas ótimas!
O estilo é “sambão” e balança entre Chico Buarque e Noel Rosa. As letras são bem humoradas e bem redondinhas. Alguns arranjos são impagáveis, com tudo que se tem direito: violões de 7 cordas, cavaquinho, violões comuns, instrumentos de sopro, breques espetaculares e uma grande harmonia em tudo!
Tinha consulta marcada com o dentista na semana seguinte. Já entrei no consultório reclamando a ingratidão. Na hora ganhei o disco, que tenho ouvido quase todos os dias. Nos sábados e domingos, depois das 10 da manhã, com o som um pouquinho mais alto, meus vizinhos também são brindados. Até aqui nenhuma reclamação. O disco é bom mesmo e tem no you tube.
MdPB

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Brincando de cordel

Num rasgo de alegria
Decidi comemorar
A vida como ela anda
A noite como ela está
Na falta de uma festa
Abracei o meu vizinho
Fiz no seu rosto um carinho
Fiz sua face corar
Entrei correndo, gritando
O que será?
Que será?
Descobri quase cantando
Mas não lhe posso contar
Depois direi de mansinho
Depois direi devagar
Acho o segredo bonito
Por isso devo guardar
Quando for hora te conto
Quando essa hora chegar
Te presenteio o segredo
Junto com meu despertar
Achando a vida mais bela
Achando a noite um manjar
Que me tira da gaiola
Que me joga num pomar
Por onde faço uma trela
Por onde ando a sonhar.