quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Revendo e reinterpretando

Puxa vida!
Revendo a minha postagem de 09 de agosto dá pra imaginar how bad I was that day.
Isto não é comum em mim.
No geral tenho um altíssimo astral e não faço concessão aos maus presságios.
Sou de bem com a vida.
Tenho uma relação estreita e muito bem resolvida com a solidão. Exceto quando termino de ler um bom livro em dia de chuva. Aí não consigo iniciar a leitura de um novo e também não consigo me desapegar daquele que acabei de ler. A última vez que tive um sentimento meio chato como este aconteceu quando terminei a releitura de O Estrangeiro, de Albert Camus, há uns seis meses atrás. Era um sábado chuvoso sem nada no horizonte. Terminar o livro pareceu-me terminar uma etapa da vida sem preparo pra iniciar a próxima.
Li O Estrangeiro pela primeira vez quando tinha dezoito anos. Amei! Mas jamais da forma como quando fiz a releitura. É sempre muito bom revisitar a vida através dos livros. É bom também o sentimento de sabedoria quando a gente descobre uma nova forma nos ambientes e nos personagens. E isto só é possível na releitura.
Tomei um susto logo no primeiro parágrafo. É incrível a indiferença do personagem principal, Meursault, quando recebe a notícia da morte da Mãe: “Hoje, mamãe morreu. Ou talvez ontem, não sei bem. Recebi um telegrama do asilo: "Sua mãe faleceu. Enterro amanhã. Sentidos pêsames." Então ele pensa: “ Isso não esclarece nada. Talvez tenha sido ontem”. E segue a estória dele e de sua ausência de emoção para com tudo que é supostamente importante para a grande maioria das pessoas. Aconselho a releitura desse livro, pela maestria de Camus na construção do perfil psicológico de Meursault. Depois, pela compatibilidade da personalidade dele com a cena final do livro. Aconselho a leitura também, claro, senão fica inviabilizada a releitura.
Mas, voltando ao início. Eu falava do meu estado depressivo do dia 09 de agosto. Aconteceu por razões objetivas. Ainda bem! Depressão preocupante é aquela sem motivo objetivo. Tudo sanado. Estou pronta pra outra. Porém, com esperança de que isto não ocorra novamente. Depressão é um bicho meio feioso. Prefiro cantar, dançar, sair... ou, iniciar a leitura de um bom livro em um sábado chuvoso.

5 comentários:

  1. aê, garota!
    amei tudo, especialmente a sentença:
    "Aconselho a leitura também, claro, senão fica inviabilizada a releitura." digo "especialmente", pois é a mais -digamos- sensato non-sense. mas tudo o mais é o suco dos sucos. hoje falei em tautologias. é o mesmo universo. e aprendi a adotar alguns livros para relê-los muitas vezes. o que mais reli foi "O Senhor Embaixador", de Érico Veríssimo. ao reler "S. Bernardo", vi que -quando o lera- ainda não sabia ler...
    DdAB

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  2. Ôi, Duilio!
    Obrigada pelo comentário. Depois que vc entrou pra me seguir fiquei tímida. Que coisa, né? Seu blog tem postagens elaboradas, e tal...Mas, depois melhoro...
    Comentando o comentário: releituras sempre fazem bem porque a gente não sai da área de conforto. Adoro reler bons livros e rever bons filmes. Recentemente revi Perfume de Mulher. Tem cenas que não vi com tanta beleza e grandeza da primeira vez. Uma que destaco é a da briga do Coronel com o menino - não lembro o nome do personagem agora - quando ambos renuciam à vida por alguns poucos minutos. Outra é a sutileza da paquera recíproca entre o menino (provocado pelo Coronel) e a parceira do Tango.Guardadas as proporções, lembra a paquera de Shane(Os brutos tambem amam) com a mulher do rancheiro. Imagino que você já viu esse filme. Acho que já revi umas cinco vezes.
    Agora vou assinar o comentário assim:
    Mpb

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  3. oi, Da Paz:
    não há razão para timidez, os blogs são para isto mesmo: a gente nunca vê a cara de nada. meu blog é um tanto catártico, e espero poder um dia editar algumas dessas coisas num livro (nada mais sei sobre que diabos de livro este negócio pode render). o "Perfume de Mulher" é um dos filmes que amo e já o revi algumas vezes. também a versão italiana (diretor?) e Victorio Gassmann. eu precisava controlar-me para não morrer de angústia com aquele cara, tosco, num estilo de cinema velho, maus coloridos, mas espantosamente tocante. e também amo o Al Pacino, no outro dia revi algumas coisas, inclusive a garota do tango. sobre a cena da briga, achei a reação do garoto uma das mais memoráveis do cinema: o guri -so to say- em certo momento fica furioso e, se bem lembro, diz: "you miserable blind". por outro lado, a cena do tango não me revelou o rasgo que mencionas. preciso ver novamente!
    DdAB
    p.s.: não teria que ser MdPB? (ficaríamos mais análogos)

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  4. aêee:
    por outro lado, esqueci que viera visitar-te para pedir mais postagens. está tudo explicado. quero mais postagens!!!
    .d.

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  5. Êpa! será que estou vendo coisas de mais na cena do tango? Também vou rever.
    Quanto a mais postagens, elas virão...
    MdPB

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